Navazos Niepoort branco 2008
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Navazos Niepoort branco 2008


O vinho com que recomeço a escrita após período de férias, é a meu entender uma das surpresas do ano, um vinho cujos autores dispensam muitas apresentações, mas cuja história e processo de elaboração convém aqui ser relembrado.

O método pelo qual este vinho foi elaborado, de novo não tem nada, afinal de contas em 1801, Agustín Fernández já no seu artigo "Cultivo de las viñas y modo de hacer el vino en Sanlúcar de Barrameda", publicado no nº213 do Semanário da Agricultura e Artes, deixava bem claro que as melhores uvas são as "listanes" (palomino fino) e as melhores vinhas, as de "terra branca", e seguia dizendo:

"los blancos, en siendo la uva de buena calidad, nada necesitan; es verdad que algunos suelen agregarles una quarta de aguardiente de refino para asegurarlos; pero se exponen con esto à que salgan bastillos"


Portanto o que temos é um processo que já naquela altura se baseava numa uva de nome Palomino Fino, que procedia das melhores parcelas, fermentava em "bota" com leveduras autóctones criadas debaixo do velo em flor, que surgia uma vez que as leveduras de fermentação terminavam os seus afazeres dando lugar às leveduras da "flor", ao qual não se adicionava álcool e que posteriormente se deixava repousar durante uns meses em barrica/bota, ficando no final com uma graduação natural. Era este vinho que antes de surgir a denominação "vino de manzanilla", originária de Cádiz, era conhecido localmente como "vino blanco"
Ora com este Navazos-Niepoort o que temos é um "vino blanco"e não uma Manzanilla como muitos poderão pensar na altura da prova ou até antes, elaborado pelo Equipo Navazos e por Dirk Niepoort, com a ajuda de Quim Vila, seguindo os mesmos critérios de qualidade que seguiam os produtores locais faz mais de 200 anos.
Navazos Niepoort Vino Blanco 2008 Castas: 100% Palomino Fino - Estágio: fermentou em botas de 500l, muito velhas. Fermentou naturalmente, com leveduras indígenas e sem controle de temperaturas. Estagiou sobre o Véu e a Bota durante 5 meses - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo palha de nuance dourada de mediana intensidade

Nariz revelador de uma delicada complexidade, num vinho pleno de personalidade a mostrar de início aroma característico das Manzanilla, aquele toque que recorda levedura que vai evoluindo para frutos secos torrados (avelã, amêndoa), flores brancas que lhe conferem uma certa fragrância perfumada, ligeiros citrinos com lembrança de chá de limão, e um fundo com certa dose de mineralidade/salinidade. É daqueles vinhos onde os aromas vão sendo encontrados à medida que se aprecia e dá tempo ao vinho, num todo que ao mesmo tempo parece pintado em tons pastel, direi antes tons secos.

Boca de entrada com estrutura mediana, melhor na profundidade que na espacialidade, dando mostras de secura logo de imediato, com sensação de envolvimento/arredondamento/untuosidade com toques de nozes e avelãs, ligeira presença de citrinos com boa dose de frescura e um final onde a mineralidade mais uma vez aporta traços de leve salinidade. Final de boca de boa persistência num conjunto que se mostra um pouco mais expressivo na prova de boca que na prova de nariz.

É sabido que a nível aromático, a casta Palomino Fino não é de grandes exuberâncias, apresentando-se com vinhos de delicada complexidade e ao mesmo tempo capazes de encerrar uma peculiar identidade. Quem se aproximar deste vinho, deverá ter noção de que não é um vinho Manzanilla mas sim um vinho branco, apesar de parte do impacto inicial nos leve a pensar isso mesmo dado alguns factores comuns, colocando-se mesmo a hipótese de se pensar numa versão de Manzanilla Light visto não ter sido adicionado álcool.
De qualquer das formas é o melhor branco de Palomino Fino que provei, mostrando-se delicado, muito senhor do seu nariz, capaz de evoluir muito bem em garrafa, pelo que lhe vou fazer a vontade e tornar a provar daqui a 4 meses. Foi servido a 7/9ºC a acompanhar variadas tapas, desde presunto ibérico, mojama...
16,5



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