Origens da Touriga Nacional
Embora tenha sua fama associada ao Vinho do Porto e aos tintos de mesa do Douro, um certo mistério cerca as origens da Touriga Nacional. É difícil precisar em qual região vinícola portuguesa ela nasceu. Alguns estudiosos dizem que ela provém do Dão, apoiando essa afirmação em antigos relatos. Em 1900 Cincinnato da Costa escreveu, em seu livro "O Portugal Vinícola", que no século XIX 90% dos vinhedos do Dão eram plantados com esta uva - ali chamada de Tourigo ou pelos sinónimos Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Os vinhos de Touriga são maciços de cor, apresentando-se em certos anos completamente opacosNa região do Dão a Touriga Nacional é conhecida, normalmente, por Tourigo, embora se lhe reconheçam vários sinónimos, tais como Preto Mortágua, Mortágua, Elvatoiriga ou Tourigo Antigo. Este facto é relevante, pois a existência de uma pequena aldeia, entre Tondela e Santa Comba Dão, com o nome de Tourigo constitui um argumento importante para considerar esta casta originária do Dão. Também não deixam de ser significativos os sinónimos Mortágua e Preto Mortágua, surgidos a partir do topónimo da vila vizinha de Santa Comba Dão. Em contrapartida no Douro não se lhe conhece nenhum sinónimo com conotação geográfica.
Seja como for, é cultivada nas duas regiões desde um passado longínquo. Enigmático, entretanto, é o declínio da Touriga no Dão depois da tragédia provocada pela Filoxera, a praga que devastou quase todos os vinhedos europeus no final do século XIX.. Ao contrário de outras áreas, as vinhas ali não foram replantadas com a casta que predominava antes. Acredita-se que a espécie perdeu o vigor, por falta de adequação dos porta-enxertos americanos, necessários para escapar dos efeitos mortais da doença. Com as inovações tecnológicas actuais, especialmente na selecção de clones de Touriga Nacional (mais seleccionados), alguns porta-enxertos são mais adequados à pujança da casta, o cultivo da vinha está ligeiramente melhor, embora tenha desaparecido quase totalmente a calda bordalesa, os meios tecnológicos evoluíram, os processos microbiológicos da vinificação são bem conhecidos e os fenómenos químicos do envelhecimento começaram a ser desvendados. É certo que continuamos a saber muito pouco de fisiologia da videira e de bioquímica da maturação, continuamos muito dependentes dos caprichos do tempo, só fazemos grandes vinhos quando as produções são baixas ou muito baixas, mas avançámos muito em relação ao que se fazia há vinte anos atrás.E os vinhos de Touriga Nacional passaram a ser bebíveis muito mais cedo. Mudaram muito no estilo, mais fáceis, mais elegantes, mais limpos de aroma, provavelmente com menor longevidade e, também, mais iguais aos outros, por força do estágio em barricas de carvalho. É este estilo de vinho que fez da casta um verdadeiro fenómeno de popularidade, entre nós, nos finais dos anos noventa e até aos dias de hoje.
A uva e o vinho
Os vinhos se bem feitos, são inconfundíveis, qualquer que seja a região onde se produzam. Os Tourigas Nacionais do Dão, do Douro, da Estremadura, do Alentejo têm, quando bem feitos, a elegância, a robustez e o equilíbrio como denominadores comuns, embora sejam claramente distintos entre si, como já foi dito, são maciços de cor, apresentando-se, em certos anos, verdadeiramente opacos; os aromas primários, inconfundíveis, fazem lembrar frutos pretos, como as amoras, os mirtilos e, por vezes, os abrunhos, onde sobressaem as notas de caruma de pinheiro e de flores silvestres, como a esteva e, em anos excepcionais, o rosmaninho. O estágio em madeira de carvalho, e não em madeira de castanho como era tradição no Dão, valoriza as suas notas aromáticas, conferindo-lhes maior complexidade, e acelera-lhes o arredondamento dos taninos, tornando-os bebíveis ao fim de um ano ou pouco mais. O exemplo mais simbólico é, sem dúvida, o Porto vintage, cujo perfil aromático, tão intenso quanto elegante, reflecte toda a sua individualidade.
É uma uva que exige paciência do produtor.É também uma casta que tem um processo de maturação lento, as virtudes só se vão acumulando lentamente nos bagos. A cor, por exemplo, é muito lenta a surgir no bago mas, no final, ultrapassa as outras castas em quantidade de matéria corante.A vindima, idealmente feita quando a uva apresenta um grau provável de 13, 5º, acaba sempre por se arrastar até bem dentro do mês de Outubro.No que respeita ao trabalho de adega, a Touriga apresenta muita cor, é muito regular na produção ou, como se diz na linguagem popular, não é aneira. Nos casos em que se apresenta com pouca cor desenvolve aromas de bergamota, o cheiro a chá Earl Grey. Como é muito rica em compostos fenólicos é uma casta que beneficia com macerações pós-fermentativas, ficando assim mais rica de aromas. Com tintos, bem estruturados, suportam bravamente o estágio em barrica de carvalho que se pode prolongar por muito tempo (Este estágio mais prolongado pode mesmo ser determinante para que se libertem os aromas da casta) e beneficiam com o envelhecimento na garrafaA Touriga tem, para o enólogo e para o consumidor, a desvantagem de ter tendência a desenvolver fenóis voláteis, o conhecido cheiro de suor de cavalo. A solução para o problema ainda está em estudo.