Um Copo de 3 com Nuno Morais
Vinhos

Um Copo de 3 com Nuno Morais


Mais um entrevistado no Copo de 3, desta vez falamos com o Nuno César Galvão Carita de Morais, 24 anos, natural de Elvas e Estudante do 4º ano da Licenciatura em Engenharia Agronómica (Ramo de Viticultura e Enologia) no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. Neste momento faz parte da actual direcção da APJE, sendo Vice-Presidente com função de Relações Públicas.
Decorreu assim a entrevista:

- Copo de 3: Boa tarde Nuno, preparado para a entrevista ?
- Nuno Morais: Boa tarde, sim porque não !

- Copo de 3: Como entraste no mundo do vinho ? E o gosto pela prova quando foi ?
- Nuno Morais: A minha chegada ao mundo do vinho é bastante recente, uma vez que foi quando entrei para o Instituto Superior de Agronomia (ISA), que me despertou o “bichinho” sobre a viticultura e pelo vinho em geral. O gosto pela prova começou bem mais cedo, por estranho que pareça; desde miúdo que sempre gostei de andar a enfiar o nariz nos cozinhados da minha Mãe e de provar tudo o que desconhece-se, como o vinho por exemplo.

- Copo de 3: Já alguma vez bebeste um copo de 3 ?
- Nuno Morais: Já à algum tempo, quando era mais gaiato.

- Copo de 3: Que papel tem o vinho na sociedade hoje em dia ?
- Nuno Morais: Eu creio que o vinho na sociedade hoje em dia, tem um papel importante e preponderante na agricultura do nosso País, embora também creio que, hoje em dia se está a chegar ao um ponto de saturação de mercado, ou seja, existe uma superprodução de vinho para o consumo existente no mercado, pelo qual não sei se não será necessário, principalmente os médios produtores terem um pouco de atenção, em relação a esse ponto.

- Copo de 3: É melhor provar sozinho ou em grupo ? Tens grupo de prova ?
- Nuno Morais: Sem duvida nenhuma, prefiro provar em grupo do que sozinho, não só pelo aspecto “social”, mas também pelo aspecto sensorial que varia de pessoa para pessoa e que nos leva a conseguir caracterizar melhor um vinho em questão. Não, não tenho nenhum grupo de prova fixo.

- Copo de 3: Que opinião tens dos críticos nacionais ? E estrangeiros ? Identificas-te com algum ? Porquê ?
- Nuno Morais: Sem querer meter a foice em ceara alheia, a minha opinião sobre os críticos nacionais não é má, muito embora creio que por vezes não é totalmente imparcial a crítica de vinhos associados a grandes casas e ao invés os “novos” produtores por vezes sofrem críticas severas demais; contudo isto não quero dizer que a crítica em geral seja má, nem pouco mais ou menos, mas por vezes podia ser um pouco mais cuidada…

- Copo de 3: Que vinho escolherias para beber agora ?
- Nuno Morais: Bem, eu sempre achei que um vinho apenas consegue ser “esplendoroso”, se combinado com a correcta iguaria (completando-se mutuamente); mas simplificando as coisas, porque não fugir um pouco do característico (vinhos tintos e vinhos brancos) e escolher, por exemplo, um Inniskillin - Cabernet Franc (Ice Wine), e acompanhado sem dúvida alguma por frutos secos (nozes, pinhões, entre outros).

- Copo de 3: Fazes parte da direcção da APJE, queres falar um pouco sobre essa Associação ?
- Nuno Morais: A Associação Portuguesa de Jovens Enófilos (APJE) sedeada no Instituto Superior de Agronomia (ISA), tem como objectivo dar a conhecer (essencialmente aos jovens) o mundo do vinho, através de provas de vinhos, cursos, visitas a produtores, entre outros aspectos. Neste momento esta nova direcção na qual me integro ainda está numa fase de transição/adaptação, de modo que ainda temos muitas ideias no ar e poucas já programadas. Creio que de momento contamos com cerca de 300 a 400 sócios efectivos. Estamos também a tentar relacionarmo-nos com a Confraria de Enólogos do Alentejo, entre outras associações, de modo a que possamos alargar um pouco a nossa área de intervenção.

- Copo de 3: Como encaras o papel dos jovens enólogos em Portugal ? A integração no meio dos mais velhos e conhecidos é fácil ?
- Nuno Morais: Creio que o papel dos jovens enólogos é bastante importante, como em qualquer outra profissão, pois é neles que se encontra o futuro, neste caso, da viticultura e enologia do nosso país, são eles que vão continuar e se possível melhorar tudo aquilo que até agora se tem feito. A integração no meio, se por um creio ser fácil por outro também creio ser bastante complicada, ou seja, se por um lado os jovens se integram facilmente no meio, por outro lado o produto/resultado dessa integração não é bem aceite por aqueles que já estão no meio à mais tempo.

- Copo de 3: Como estudante de enologia, e futuro enólogo, qual a região em que mais gostavas de trabalhar em Portugal ? E lá fora ? Porque as escolhas ?
- Nuno Morais: Eu creio que poder um dia vir a fazer aquilo que gosto, já uma recompensa extraordinária, mas como bom alentejano que sou, adoraria trabalhar no “Alentejo do meu coração”, embora também me atrai bastante a possibilidade de um dia poder trabalhar na região do Douro. No estrangeiro, gostava por exemplo de poder trabalhar na Nova Zelândia, Austrália, mas não por muito tempo; saudades…

- Copo de 3: O que achas do Alentejo não ter uma Licenciatura em Enologia quando é a região que mais vinho produz em Portugal ?
- Nuno Morais: Creio que não é pelo facto de o Alentejo produzir mais vinho que qualquer outra região de Portugal que deveria ter uma Licenciatura em Enologia, mas sim porque o Alentejo apresenta características que poucas regiões do País apresentam para esse tipo de ensino, que exige uma vertente bastante prática e que em Lisboa ou no Porto não se conseguem. A Universidade de Évora, por exemplo tem condições extraordinárias para o ensino em Viticultura e Enologia numa das propriedades da Universidade, nomeadamente a Herdade da Mitra, mas também o facto de no Alentejo existirem grandes e médios produtores com os quais se pode tirar muito partido, e que a meu ver se consegue uma vertente muito mais prática dos cursos e que se traduz numa melhoria tanto para os “futuros profissionais” como para o ensino em geral. “O que acha de um médico acabar o curso sem nunca ter visto sangue?” A situação é a mesma.

- Copo de 3: O futuro está nos varietais ou nos vinhos de lote? A moda varietal já passou ? Tens preferências ?
- Nuno Morais: A meu ver a moda dos varietais não passou, mas parece cada vez mais que está de volta. Creio que com os vinhos de lote, quando bem feito o lote, se consegue um vinho muito mais equilibrado e com uma maior harmonia muito maior, que por vezes com um varietal não conseguimos (atenção eu sou perdido por varietais de Touriga Nacional).

- Copo de 3: Na tua visão qual vai ser a próxima moda ? E a região com mais para dar ? Porquê ?
- Nuno Morais: A próxima moda não sei qual será, embora a região que creio que terá mais para dar será o Alentejo, se as condições climáticas ajudarem… Devido a que neste momento tenho a sensação que é a região vitivinícola do nosso País que apresenta as condições tanto ecológicas como climáticas, mais favoráveis para uma produção de vinhos com um elevado padrão de qualidade. Também porque, do meu ponto de vista, temos muitos vinhos alentejanos de uma gama media/média-alta, embora tenhamos poucos vinhos que possamos considerar como excepcionais, não se devendo à falta de talento ao nível da região nem dos produtores/enologoas, mas sim (na maior parte, não na sua totalidade) uma elevada aposta em altas produções, ao invés (por exemplo) da região do Douro que na sua maioria aposta na qualidade acima de tudo.

- Copo de 3: Em Portugal devemos apostar mais em castas estrangeiras ou nacionais ? O que falta às nossas castas para serem tão bem vistas como a Chardonnay ou o Cabernet, Merlot...?
- Nuno Morais: Creio que devemos apostar em ambas. Em relação às nossas castas serem mais ou menos bem vistas que as estrangeiras, creio que acima de tudo se deve á questões de adaptação/produção de determinadas castas aos climas vigentes em determinadas regiões. Por exemplo a recente entrada da casta Syra nas vinhas/vinhos nacionais, a meu ver deve-se a que foi homologada recentemente para o nosso País e que é uma casta com umas capacidades produtivas associadas a um padrão de qualidade bastante elevado, o que levou a que muitos dos nosso produtores optassem pela introdução desta casta nos seus vinhos. Por sua vez já tínhamos assistido a uma situação similar à alguns anos atrás com o Cabernet Souvignon.
Em resumo umas melhores produções aliadas a uma alta qualidade.

- Copo de 3: Com que tipo de vinho te identificas mais ?
- Nuno Morais: Com nenhum em especial, desde que seja um vinho equilibrado tanto ao nível olfactivo como gustativo.

- Copo de 3: Existe o vinho perfeito ?
- Nuno Morais: Não, porque cada pessoa tem os seus gostos, e “gostos não se discutem…”

- Copo de 3: Vinho que mais te impressionou nos últimos tempos ? E a maior desilusão ?
- Nuno Morais: O vinho que talvez me impressionou na temporada passada talvez foi o Malhadinha 2003 da Herdade da Malhadinha a Nova. Desilusão algumas, embora nenhum em especial.

- Copo de 3: O nosso é que é bom ou lá fora também há bom vinho ?
- Nuno Morais: Lá fora também existem bons vinhos e não são poucos.

- Copo de 3: Achas que o vinho está a ficar todo igual ? O que fazer para mudar ?
- Nuno Morais: Não creio que o vinho esteja a ficar todo igual, mas sim que cada dia que passa existe mais vinhos, e acima de tudo muitos vinhos de grande qualidade.

- Copo de 3: O vinho está caro ?
- Nuno Morais: Muito.

- Copo de 3: Enólogo que mais gostas ?
- Nuno Morais: Não simpatizo com nenhum em particular, embora hoje em dia, é praticamente impossível não se fazer uma referência ao Eng. Paulo Laureano ou Luís Pato.

- Copo de 3: Qual a garrafa mais cara que compraste ?
- Nuno Morais: Não faço a mínima ideia.

- Copo de 3: Quantas garrafas tens em casa ?
- Nuno Morais: Não tantas quanto gostaria…

- Copo de 3: Que castas escolhias para fazer um vinho, que região e que nome lhe davas ?
- Nuno Morais: Quanto às castas talvez utiliza-se a Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Tinta Roriz, relativamente à região possivelmente o Douro ou o Alentejo, o nome não tenho ideia nenhuma neste momento.

- Copo de 3: Um conselho para alguém que agora entra neste mundo ?
- Nuno Morais: Deixem-se apaixonar por este mundo, o resto vem por acréscimo.

- Copo de 3: Obrigado.



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