Não há santos no mercado brasileiro do vinho!
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Não há santos no mercado brasileiro do vinho!



Há um tempo ouvi um especialista em Direito Tributário dizer que o brasileiro é um infeliz, pois é o único cidadão do mundo que é chamado de “contribuinte”. Nos demais países os cidadãos são chamados de “pagadores”. Então, nesse quesito estamos em primeiro lugar, pois somos os infelizes maiores pagadores de impostos do mundo.

Essa infelicidade me atinge a todo instante quando lembro que além de trabalhar quatro meses do ano para contribuir com o Estado brasileiro, ainda tenho que trabalhar outro tanto para pagar plano de saúde, plano odontológico, escola pra minha filha, seguro do imóvel, seguro para o carro, plano de previdência privada... e, agora, querem aumentar os impostos sobre os vinhos importados que bebo.

Sobre essa “salvaguarda” que tanto se discute e já foi tão debatida em outros blogs, quero dizer objetivamente: sou contra qualquer iniciativa para aumentar impostos. Os motivos são os mais variados:

- porque os impostos brasileiros são mal aplicados e não temos contrapartida (lembra da CPMF para a saúde?);

- porque o aumento na tributação dos vinhos importados não resolverá o problema da falta de competitividade do vinho brasileiro (um dos problemas é a carga tributária interna);

- porque tornará mais difícil a importação apenas dos vinhos de outros continentes, porque chilenos, argentinos e uruguaios continuarão entrando no país com alíquota zero e continuarão sendo contrabandeados (alguns até com o selo fiscal que evitaria o contrabando);

- porque acredito que um setor torna-se mais competitivo não quando inviabiliza a concorrência, mas quando resolve primeiro os seus problemas (dentre eles a cadeia de tributos que atinge o setor).

Mas não sou economista, administrador de empresas, especialista em comércio exterior ou qualquer outra coisa do setor. Sou apenas consumidor de vinhos.

E, na condição de expectador dessa briga, noto que há dois lados predominantes: os que defendem os produtores brasileiros e outros que defendem os importadores. Mas, há um dado que parece deixado de lado nessa apaixonada discussão: não há nenhum santo nessa história, nem produtores brasileiros, nem importadores.

Enquanto os primeiros querem ser mais competitivos atrapalhando os segundos, esses aplicam margens de lucro exorbitantes e nos vendem vinhos que podem custar 10 vezes mais que no mercado de origem. Quando publico um vinho europeu no blog, vez ou outra algum amigo de Portugal me envia um email ou comentário dizendo-se assustado com o preço do vinho aqui no Brasil.

Então, minha opinião sobre tudo isso é que a “salvaguarda” é um retrocesso, um caminhar para o passado e estou torcendo para que não seja aprovada. A mobilização nesse sentido está forte e creio que a Secretaria de Comércio Exterior não trabalhe apenas com dados frios, mas também com o impacto negativo que sua decisão pode causar.

Do lado dos importadores que agora começaram a se manifestar publicamente, gostaria de ver nesses textos alguns números, custos, alíquotas dos respectivos tributos, para termos uma ideia do lucro que obtêm em seus vinhos. Um importante importador brasileiro compra um vinho australiano vendido no varejo de lá por US$9 e nos repassa em seu site por US$99,00.

Não há santos, portanto, de nenhum lado.

Como infeliz pagador de impostos, continuo torcendo para que um dia o vinho seja mais barato em nosso país, seja importado, seja nacional.  

Saúde a todos!
 




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