Vinhos
José Maria da Fonseca — Garrafeira RA '1999
Após uns dias de repouso — as entranhas assim o ditaram — reabri as hostilidades com um «Garrafeira» da José Maria da Fonseca. Trata-se de um Castelão proveniente dos solos arenosos da região de Algeruz — daí o nome RA — e do qual apenas se encheram 11402 garrafas. Estagiou durante 8 meses em barricas de carvalho francês, tendo sido engarrafado em Novembro de 2001 e lançado no mercado em Janeiro de 2003.
Ora, entre o princípio de 2003 e há apenas meio ano atrás, por onde terá andado este vinho? Como o terão conservado? Duvidando que com os devidos cuidados, foi apenas com relativa expectância que, tendo-o visto sozinho, perdido na prateleira de um supermercado dos arredores, me resolvi a acolhê-lo.
E quis o destino que a sua viagem terminasse há dias, acompanhando com muita dignidade umas coxas de pato confitadas. Deixei-o duas ou três horas na varanda para que se refrescasse com o vento suave da noite — ainda fechado, claro está — e decantei-o com muito cuidado imediatamente antes de o trazer para a mesa.
Logo notei que apresentava um tom granada, bem bonito por sinal, ainda bastante escuro. Bom pronúncio, talvez. Que acabou por se confirmar. O nariz vinha repleto de notas meladas — açúcar de cana em bruto — e muito fresquinho, muito balsâmico, com agulhas de pinheiro, alcaçuz e menta. Pouco depois, resquícios de algo que me evocou vida animal, cheiros de pastelaria, sobretudo de massas frescas, e licor de café. Quanto à fruta, deliciosamente licorada, tanto a encontrei muito discreta, quase transparente, como também sempre presente — de tal forma que acabou por transmitir a ideia de ser ela o fio condutor de todos os outros cheiros mais intensos, como que a manter a coesão, a harmonizar o leque aromático.
Também a boca estava muito evoluída, mas ampla e ainda dotada de certa viscosidade, muito macia, inicialmente com mostras de grande equilíbrio, mau grado o final mais discreto que aquilo que o resto fazia antecipar. Pena que, nem uma hora ida sobre a abertura da garrafa, o vinho tenha começado a evoluir incrivelmente depressa para notas de fruto seco e café — apenas. Estava praticamente morto quando acabámos.
Resumindo: aparte as mazelas da idade, cansaço terminal de que já não há recobro, o facto é que se revelou um belo vinho. Quão mais bonitos se deverão mostrar os seus irmãozinhos mais viçosos, melhor guardados!?...
Custou 20€. 16,5
Destes «Garrafeira» classificados com letras de código também já por aqui andou o TE — Tinto Especial — do mesmo ano.
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Adega Cooperativa De Borba — Garrafeira '2003
Abati recentemente uma garrafa deste vinho da Adega de Borba. Alentejano de ano muito quente, feito em estilo maduro, pareceu-me melhor e mais vivo que este seu predecessor da colheita de 2001, que aberto em Abril de 2010, já sugeria ligeiro declínio....
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Guadalupe — Selection '2005
Mais um da Quinta do Quetzal — Vila de Frades, Vidigueira. Proveniente de cepas Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet implantadas em solos xistosos, fermentou durante 5/6 dias em cuba de inox, tendo depois estagiado por 8 meses em barricas de carvalho...
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Foral D. Henrique — Touriga Nacional '2003
Bebi nos últimos dias vários Dão de 2003. Este foi o primeiro. Monocasta Touriga Nacional da Adega Cooperativa de Mangualde, foi elaborado com uvas provenientes de cepas com uma idade média de 13 anos. Após a vinificação, acerca da qual nada consegui...
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Herdade Porto Da Bouga — Garrafeira '2004
Demasiado fechado nas horas imediatas à abertura, achei-o muito mais interessante após ter pernoitado no frigorífico. Apresentou um aroma denso, amálgama de madeira tostada e frutos negros com marcas evidentes de sobre-maturação, leves (mas persistentes)...
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Quinta Do Castelinho — Porto Reserva
E só mais um, para terminar... Que também por aqui andou uma garrafa de Madeira Meio Seco do Pingo Doce — engarrafado por J. Faria & Filhos, Lda. — tão pobrezinho e ao mesmo tempo tão enjoativo, pouco ácido e tão flat como esta senhora,...
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