Versus '2004 e '2005
Vinhos

Versus '2004 e '2005


«A terra é severa, dir-se-ia até indomesticável como um potro selvagem. O granito impõe-se sobre a paisagem e pouco espaço liberta para a vegetação, que desponta fugidia entre as fragas. Nas serranias da Beira Interior, a inclemência dos elementos desafia a resistência dos que se expõem aos caprichos da Natureza. Invernos rigorosos golpeiam o solo, estremecem as árvores, resolvem as pedras. Verões tórridos secam os cursos de água, fendem os troncos, arrepanham as folhas. Mas o carácter industrioso de três gerações da mesma família fez fecundas estas terras graníticas. Em Vermiosa, Figueira de Castelo Rodrigo, o vinhedo viceja indiferente à rudeza da morfologia e do clima. Por estes lugares, o cultivo da vinha é quase uma fatalidade. Algo que acomete o Homem enquanto condição da sua própria existência. E assim nasce o vinho, com a mesma espontaneidade com que o orvalho filtra a luz da manhã. Um ofício de pureza, um labor de coisas simples, uma sabedoria quase visceral encerra o ciclo iniciado no aconchego da terra. O vinho Versus é o testemunho deste avatar.»




Este vinho é produzido pela Vinhos Andrade de Almeida em Vermiosa, localidade próxima de Figueira de Castelo Rodrigo. Bonito lugar!

Ora, como desta vez tive quem me ajudasse a virar copos, proporcionou-se este comparativo em jeito de mini-vertical. Aí vai:

Ambos possuem cor avermelhada, densa e muito escura — mas mais o de 2004, onde se evidencia ainda um grande rebordo violeta.

O da colheita de 2004 começa um pouco fechado no nariz. Depois desdobra-se em intensos aromas a cerejas e bagas maduras e em ligeira compota, com sugestões florais e de verniz, anis e notas de barrica — madeira torrada e muito café.

Na boca revela-se pujante, cheio de fruta especiada, muito saboroso, muito encorpado, quase untuoso na língua, com taninos grandes e suculentos perfeitamente integrados num conjunto francamente elegante. Fina, fria vibração mineral a todo o comprimento na prova de boca — faz lembrar granito! Final longo e persistente.

16,5, ou mais. Custa cerca de 8€. Tem de ainda ter uns quantos anos pela frente!


Já o da colheita de 2005 apresenta um perfil mais dócil, com o nariz mais fácil, mais quente, doce e disponível, cheio de frutos vermelhos e que a dada altura evoca rebuçados floco-de-neve, caramelos de leite e resina seca de eucalipto.

Na boca é equilibrado, embora bastante menos encorpado que o da colheita anterior. Também a mineralidade surge bem mais discreta. Algo guloso, oferece muita fruta e rebuçado, algum balsâmico e madeira sólida, tudo bem misturado e a prolongar-se por um final longo q.b..

Embora tenha melhorado nos últimos meses — ou assim me pareceu — nasceu uns furos abaixo do de 2004 e não o vai apanhar. Mas continua a ser um belo vinho!

16



loading...

- Prova Castelo Rodrigo Touriga Franca 2001
Inspirado ainda na onda do cooperativismo, deu-se um salto por uma região quase sempre esquecida, a Beira Interior,onde da Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo se provaram 4 varietais (Alfrocheiro, Touriga Franca, Tinta Roriz e Touriga Nacional)....

- D'aguiar '2005
Mais um tinto de Figueira de Castelo Rodrigo. 85% Tinta Roriz e Touriga Nacional, brevemente estagiado em barrica. O produtor faz parte do grupo Caves Aliança. . . . Rubi, com alguns anos na cor. Impera a fruta, negra, densa, doce, parcialmente compotada,...

- Castelo Rodrigo — Touriga Franca '2003
DOC Beira Interior, monocasta Touriga Franca da Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo, foi bebido na sequência de uma viagem recente à terra de onde é natural. Das 13600 produzidas, abri a garrafa nº 5652. E passo a transcrever as impressões...

- Casa De Saima — Garrafeira '2001
DOC Bairrada — 95% Baga — estagiou um ano e meio em tonéis de carvalho avinhado. Quanta tipicidade! De uma densa onda floral e balsâmica despontam notas intensas a castanhas / baunilha / cabedal / carnes de fumeiro — atrás vem terra fria e húmida...

- Kopke (tinto) '2005
Mais pinga: Kopke, tinto duriense (D.O.C.), colheita de 2005. Cor rubi profunda. Surge primeiro um aroma muito ligeiro a frutos vermelhos, que se intensifica um pouco ao voltear o vinho. Notas de ligeira compota. Depois, elementos minerais. Ou melhor...



Vinhos








.