Quando postei comentários sobre o Santola, recebi mensagem do amigo João Barbosa, de Portugal, que estava de certa forma preocupado com a imagem de seu país, pois o vinho comentado não seria, nem de longe, um exemplar digno de confirmar a tradição e qualidade dos vinhos verdes. Passados alguns dias, recebi em casa - pelo correio - duas garrafas de vinhos verdes: um Alvarinho Portal do Fidalgo 2005 e este Quinta da Aveleda 2003. Gentileza impagável, vinda de um cavalheiro e amante do vinho. Foi ele também que me deu a dica: vinho verde tinto é "imbebível"!
A Quinta da Aveleda é uma empresa familiar de sucesso, constituída como sociedade desde 1947, mas produzindo vinhos há mais de três séculos. É produtora de um dos vinhos portugueses mais vendidos no mundo, o Casal Garcia, muito popular no Brasil. A vinícola produz cerca de 12 milhões de garrafas por ano, das quais mais de metade são exportadas para 50 países diferentes.
Guardei o vinho e resolvi abri-lo ontem para acompanhar um peixe grelhado ao molho de mostarda e legumes. Para evitar que o paladar e o olfato fossem enganados pelos temperos, fiz minhas anotações antes do jantar. O resultado foi bem melhor do que com o Santola, algo já esperado.
No copo, apresentou coloração amarelo-dourado, com boa transparência. Acho que isso decorre da idade, pois normalmente o amarelo é mais claro. Aromas moderados de frutas cítricas. Alguma lembrança floral e apareceram notas minerais muito discretas (sensações interessantes). Boa acidez e refrescância. Senti falta das "agulhas", característica que dá refrescância ao vinho verde, fruto do gás carbônico obtido na fermentação.
Vinho leve (10,5% de álcool), com final muito agradável e de ótima persistência. Algum amargor presente, mas sem incomodar. Com o aumento da temperatura no copo (natural nesses dias quentes), surgiram notas de mel. Particularmente não é uma característica que me atrai, mas nesse caso foi agradável.
Um vinho muito bom, cujo preço não procurei, para não ser deselegante. Nas publicações brasileiras é normalmente indicado nas listas de bons vinhos verdes.
Preciso fazer duas observações: primeiro, como não consta no rótulo as uvas utilizadas na produção do vinho, recorri a sites. Encontrei dados um tanto contraditórios, provavelmente em razão da safra. Me pareceu mais confiável a informação de que o corte é feito a partir das uvas alvarinho, trajadura, loureiro e pedernã. Segundo, o vinho está de rótulo novo, mas a garrafa que recebi (2003) é muito mais bonita.
Obrigado João. Comentarei o outro vinho em breve.