Pois para os bifinhos ali de baixo decidi abrir uma garrafa que se me afigurava promissora, tanto pelo perfil menos convencional — um vinho do Dão feito apenas com Baga e Alfrocheiro — como pela muito positiva (embora vaga) crítica que tem recebido.
Encontrei-o de cor bonita e invulgar, um rosa escuro com reflexos avermelhados.
Apesar de decantado com antecedência, estava fechado, como que «liso» no nariz, com presença mas sem profundidade. Havia fruta madura, mas nunca doce, densa, em fundo mineral de grafite e terra molhada. Com o tempo, lá se foi mostrando um pouco de chocolate, umas raspas de madeira torrada...
Esteve grande na boca, fresco, pujante e muito equilibrado, de sabores discretos entre a fruta austera e os tostados, sempre composto pelo chocolate (de carácter que não me pareceu nem doce nem amargo!) e dotado de uma bela estrutura, com taninos doces e um grande final.
Desta vez, sobrou um bocadito para o dia seguinte. Nariz ainda mudo. Em termos de aromas e sabores, mais do mesmo em relação ao dia anterior. Talvez o tenha encontrado um pouco mais vivo, mas longe de lhe poder chamar expressivo.
Gostava de prová-lo daqui a dez anos. Para já, embora prometa muito, não me impressionou.
Uma nota final. Diz o rótulo...
«A nossa homenagem a um amor puro que irá durar até ao fim do mundo».De facto, parece-me um vinho para beber com alguém especial. Ou com alguém que, não sendo especial, nos dê e retribua a vontade de fingir certas singulares afinidades da alma. Arrulhar. Ronronar. Dizer doçura. Fingir fofices. Fazer birrinha, trocar miminhos.
E etc., pine-se.
Porque... suave, de forma alguma agredirá o palato de quem o provar, por mais sensível que este seja. Bem balanceado, possui uma profundidade
doce, que surge ao longo dos taninos, através do corpo — não tanto de aromas e sabores, dos quais, agradável, nem doce nem seco, nem frutado nem balsâmico, mineral ou amadeirado, é consensual e quase plano.
Ou seja, para terminar a lengalenga, é bom de sentir e não dá muito que pensar. E por fim, tem 14,5% vol. que não nos saltam para a cara nem picam na língua. Não é o que se costuma querer de um vinho para uma noite
dessas?
Penso que apenas reste indicar, como de costume, que foi produzido pela Dão Sul na Quinta de Cabriz, tendo a enologia ficado a cargo de Carlos Lucas. Não consegui averiguar as proporções entre as quantidades de Alfrocheiro e Baga utilizadas nem o tempo de estágio. Parece que foi especialmente elaborado para o Hotel Quinta das Lágrimas.
Custou 28€ aqui bem pertinho de casa.
16,5
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