NOVO ESPAÇO ABERTO... APAIXONADOS DO VINHO
Vinhos

NOVO ESPAÇO ABERTO... APAIXONADOS DO VINHO


A paixão que move estes homens e mulheres pelo vinho é enorme...
Presentes em mais que um evento, em mais que uma prova, frequentadores das mais famosas garrafeiras de Portugal e quem sabe do estrangeiro, nas suas garrafeiras dormem os melhores vinhos feitos por Portugal e mais além, alguns até com sites sobre o tema, com grupos de prova mais ou menos famosos, gente que aparece nos jornais, pessoas diferentes mas unidas por um gosto comum, O VINHO.
São estes apaixonados do vinho que agora vêm tomar um Copo de 3 e responder a algumas perguntas, fiquem atentos porque esta gente sabe do que fala... e andam por aí.

O primeiro convidado do Copo de 3 é o Sr Pedro Brandão natural da Cova da Piedade-Almada, 32 anos e trabalha em Telecomunicações Móveis.
Falar nele é o mesmo que falar no Clube Óptimus Vinhos ( COV ), sugiro uma atenta leitura do seu site, colocado nos links do Blog.
Reunidos na boa de uma esplanada, a conversa ditou o seguinte:

-Copo de 3: Então pronto para umas perguntas ?
-Pedro Brandão : Vamos a isso...

-Copo de 3: Como entraste no mundo do vinho? E o gosto pela prova quando foi ?
-Pedro Brandão: Desde cedo que o meu Pai me incutiu o gosto, o respeito e a moderação nas apreciações do vinho. Foi ele quem me foi incitando a provar com atenção à refeição os vinhos que ia tendo. Era incentivada a atenção e apreciaçãodos aromas (bouquet era o termo usado) e dos sabores. Lembro-me de ser um miudo de 12 ou 13 anos e já poder provar um pouco a cada refeição. Sempre fui levando essa lição comigo, e sempre fui gostando de ler umas coisas. Entretanto, a vida vai dando passos largos e escolhem-se caminhos a cada um. Por conversa com alguns amigos, acabámos por ir descobrindo que tínhamos situações semelhantes, em que sentíamos o mesmo gosto, mas nunca tínhamos dado mais atenção ao passatempo das provas. Por altura de 2003 decidimos fazer um grupo para fazer compras de vinhos para as nossas casas todos os finais de mês, e ir trocando mails entre nós onde tentávamos descrever a prova dos vinhos que vamos abrindo, para servir de conselho uns para os outros.

-Copo de 3: Já alguma vez bebeste um copo de 3 ?
-Pedro Brandão: Já, copo de 3 e copinho de "branco velho" como lhe chamávamos quando eramos mais jovens e íamos ali às tascas da Cova da Piedade e Cacilhas. Ou quando fazíamos esse caminho a pé, passando por Almada e parando em cada porta para virar mais um...

-Copo de 3: O que te levou a formar o teu grupo de prova ??
-Pedro Brandão: Depois de começarmos nas trocas de mails sobre os vinhos que íamos bebendo,começámos a lêr também mais coisas, e acabámos por encontrar o site d'Os5as8,um grupo de prova já formado e com actividades engraçadas, que na altura considerei um projecto super interessante. Eram pessoal que curtia o vinho e se disponibilizava para ajudar e aconselhar quem precisasse. Via ali um grupo depessoas que vivia o vinho como consumidores atentos e cheios de garra para fazer provas e dizer de sua justiça, comentar preços e os "organismos oficiais" (os críticos dos vinhos). E foi nessa onda que acabámos por pegar em nós os 4 e aprendemos a fazer as provas cegas. Foi das coisas mais didácticas que poderia haver neste gosto que temos. Começamos primeiro por nos juntar à mesa e com umc opo cada, ir provando um a seguir ao outro, depois arranjámos mais copos e provávamos com os vinhos todos ao lado uns dos outros, etc. Lemos muito,perguntamos muito, aprendemos muito. E não demos o primeiro passo ainda.

- Copo de 3: Como te vez mais, Critico ou Provador ?
-Pedro Brandão: Apreciador. Cada vez mais como apreciador. Nunca como crítico. Acho que o crítico tem uma tarefa pesada em cima dos ombros: prova por obrigação e trabalho (mesmo que tenha gosto pelo que faz, claro), tem de se abstrair dos seus gostos pessoais para classificar os vinhos numa escala qualitativa, tem a complexa missão dedizer que um vinho é mau, médio, bom, muito bom...No meu caso, provo pelo puro prazer da prova, daqueles momentos em que nos libertamos de tudo, falamos com os copos, fechamos os olhos e abrimos o espírito e os sentidos. Só escrevo sobre o que provo porque sempre gostei deescrever sobre o que vivo. É quase como um diário, mas aberto a todos na Internet. E tenho sempre o cuidado de nunca dizer "Este vinho é muito bom" ou "Este vinho é mau", porque não tenho ambições nem pretensões de ser crítico e ter de classificar os vinhos numa escala de qualidade. As minhas ambições são de partilhar com quem quiser, ler todas as sensações que vou recolhendo. Acho que a grafia é um suporte que pode ser eterno, talvez o mais parecido com as nossas memórias. Gostava também de ter parte mais activa na divulgação dos vinhos e das provas que faço, ou seja, gostava que houvesse mais partilha das experiências que cada um vai tendo. Falta um elo de ligação, que faça a ponte entre o consumidor geral e a classe crítica. Não há meio-termo. Não há um espaço para que se fale abertamente dos vinhos, em que se diga sem complexos "Gostei, não gostei", ou em que se prove vinhos para os enquadrar numa escala de apreciadores. Acho que este meio termo faz muita falta, há muito consumidor que por exemplo, nunca viu notas de prova de vinhos que compra, como o Duque de Viseu, o Periquita, o Convento da Vila. Alguém que se cole mais aos segmentos Premium e Super Premium do Porter (- de 10€ e de 10€ a 15€), e que fale muito dos abaixo dos 5€ também. Que use uma linguagem acessível e desmistificadora, no entanto, completa e esclarecedora, e que permita que quem lê se identifique com quem escreve.

- Copo de 3: É melhor provar sozinho ou em grupo ?
-Pedro Brandão: É bom provar ponto final. Mas em grupo é bem melhor. Sozinho e sem ninguém com quem conversar acaba por ser um acto egoísta. Dizer "É pá, gostei mesmo deste vinho!" mas não poder compartilhar é egoísta. Ou dizer "Eu não percebo nada disto, mas não gostei nada..." e não ter quem nos apoie ou contradiga é mau. Em grupo, sempre que der, e com gente faladora e interessada (não interesseira, hein?)

- Copo de 3: Que opinião tens dos críticos nacionais ? E estrangeiros ? Identificas-te com algum ? Porquê ?
-Pedro Brandão: Estrangeiros não conheço nada porque nunca li nada. Nacionais não posso dizer que me identifico com algum. Posso dizer que gosto mais da escrita e do método de prova de um João Afonso. No entanto, e como já referi antes, acho-os a todos muito distantes do consumidor. Tanto a nível do tipo da linguagem utilizada (com muitos termos assustadores para o apreciador mais normal), como da complexidade da mesma. Dificilmente um consumidor quererá provar um vinho do qual tenha lido algo quase incompreensível, ou com uns descritivos tais e em tal número que dizem "Foge, eu nunca vou conseguir encontrar tanta coisa num vinho, que antes de tudo, me cheira a vinho."

- Copo de 3: Achas a crítica de vinhos isenta e imparcial ? Porquê ?
-Pedro Brandão: Em primeiro lugar acho que a crítica prova aquilo que os produtores mandam para provar. Logo não pode haver alguma manipulação à partida. Depois, como em tudo, é um mundo que movimenta muitas coisas, muito dinheiro, muitas influências. No entanto, confio na isenção de quem prova. Não conheço o suficiente para fazer qualquer julgamento, e considero que todos são inocentes até prova em contrário. Mas sentir-me ia muito mais confiante se a crítica provasse garrafas distribuídas na normal cadeia de revenda. E não era complicado! Bastava que os produtores "subsidiassem" as notas de prova, com valores que permitiriam a compra dos seus vinhos em qualquer ponto do país. Gastavam o mesmo que gastam oferecendo as garrafas. Ou então que houvesse um "protocolo" entre a crítica e a distribuição ou garrafeiras, e que trocassem as garrafas que os produtores mandam. Soluções haverá de certeza, estas são 2 possibilidades...

-Copo de 3: Que vinho escolhias para beber agora ?
-Pedro Brandão: Antes de mais bebia água que de tanto falar fiquei com sede. Não há nada melhor que água, logo a seguir ao vinho.... Depois, e como diria um ilustre compadre, não queria armar-me em Pintas e começar a levantar Poeira. Podia gerar para aí uma Chryse e pensarem que eu ponho alguns vinhos dentro de uma Redoma. Sigo assim a minha própria Batuta do pensar livre e opto por uma Vertente do Meandro mais veraneante desta altura do ano. Escolhia um rosé, é o ideal para estar à conversa assim na esplanada a apanhar ar fresco. Bebia o Peceguina, mas gostava que trouxesses o Redoma rosé e o Pellada também, porque sei que ias arranjar baratinho...

- Copo de 3: Com que tipo de vinho te identificas mais ?
-Pedro Brandão: Nenhum. Sou completamente democrático, provo de tudo e de todos. Tenho muito prazer com brancos, tintos, generosos, espumantes, etc. Cada um tem os seus encantos e ocasiões.

-Copo de 3: Existe o vinho perfeito ?
-Pedro Brandão: Se a perfeição existir em alguma coisa, é no sorriso de uma criança e no seu carinho dado sem esperar qualquer retorno. Isso sim, é pureza e perfeição.Tudo o resto tem defeitos, maiores ou menores...

- Copo de 3: O nosso é que é bom ou lá fora também há bom vinho ?
-Pedro Brandão: O nosso pode ser muito bom. Sempre que se quiser. E em tudo. É preciso acreditar, e trabalhar. lá fora conheço pouco, alguns Australianos e pouco mais. Gostava de conhecer melhor vinho de Francês, mas acho que é muito complicado começar e ainda para mais, em arranjar por cá.

-Copo de 3: Achas que o vinho está a ficar todo igual ? O que fazer para mudar ?
-Pedro Brandão: Não, acho é que cada vez há mais produtores a apostar num estilo mais directo, de consumo mais fácil e rápido. Eles têm de vender, certo? Hoje em dia é fácil encontrar mais vinhos com o tal perfil internacional (que ainda não tenho a certeza se o sei identificar). Para isso terão de haver alguma homogeneização dos vinhos, mas por cá, com o património que temos de castas (variantes de uvas), podemos viver bem sem nunca cair na monotonia.

-Copo de 3: O vinho está caro ?
-Pedro Brandão: Está, sem dúvida. Sofre-se do complexo de que se sair um vinho, mas abaixo dos 15€ sería sempre um vinho mediano. É uma das barreiras a deitar abaixo. Acho que se devia de acreditar mais no que diz o relatório Porter...

-Copo de 3: Enólogo que mais gostas ?
-Pedro Brandão: Pergunta difícil, mas direi o Jaime Quendera. Por todo o trabalho que tem feito na Península de Setúbal, uma região que muito prezo, por ser o mago do Castelão, uma casta que muito prezo, e por ser um enólogo que me parece que privilegia a relação qualidade-preço, uma característica que muito prezo.

- Copo de 3: Melhor e pior vinho provado ?
-Pedro Brandão: Por motivos que já expliquei antes, não respondo a essa pergunta. Agora se me perguntares qual o vinho que mais gostei e menos gostei posso dizer. O que menos gostei até hoje foi um espumante, o Lancers Bruto. Depois um Chardonnay (Companhia das Vinhas de S. Domingos) e um DFJ Tinta Roriz e Merlot. O que mais gostei até hoje, nos tintos, foi o Leo d'Honor 99, o Quinta dos Quatro Ventos Reserva 2001, o Pape 2002. Nos generosos, o Moscatel Alambre 20 anos, o Bastardinho de Azeitão e um impressionante Kracher nº2 Muskat Ottonel Trockenbeeren Ausleseaustríaco.

- Copo de 3: Qual a garrafa mais cara que compraste ?
-Pedro Brandão: Marquês de Borba Reserva 2000 para o meu aniversário.

- Copo de 3: Quantas garrafas tens em casa ?
-Pedro Brandão: Se não contar com a Água do Luso, tenho cento e poucas.

- Copo de 3: Que castas escolhias para fazer um vinho, que região e que nome lhe davas ?
-Pedro Brandão: Castelão de vinhas velhas do Sado, Touriga Nacional do Dão, Tinta Roriz (Aragonês) do Alentejo e Douro, tudo em partes iguais. Ficaria Vinho de Mesa, sem direito a região, seria um Vinho Portugal. Chamava-lhe Mescla.

- Copo de 3: Como vês as Regiões de Portugal ?
-Pedro Brandão: Trás-os-Montes: uma pérola no meio do oceano Douro: caro, muito bons vinhos, caro, diversidade, caro, personalidade.
Minho: pátria dos Verdes, e de brancos muito surpreendentes.
Dão: a evolução positiva, vinhos de guarda e que exponencial com a idade.
Beiras: uma outra pérola, que falta polir, mas que dará uma bela jóia.
Bairrada: a mal amada, mãe da Baga, que quer muito carinho, cuidado e tempo para dar grandes momentos de prazer.
Estremadura: potencial, boa relação qualidade/preço.
Ribatejo: concorrente da Estremadura, vai um passo à frente.
Terras do Sado: incompreendida, tem Castelão capaz do melhor e do pior, tem Moscatel inesquecível, tem a Arrábida capaz de dar vinhos com muita personalidade.
Alentejo: vinhos conquistadores, cada vez mais parecidos com os Douros (estão mais caros hehe ).
Algarve: não vejo...
Madeira: uma desconhecida para mim.
Açores: uma curiosidade que pouco tem agradado.
Não falta nada pois não ?

-Copo de 3: Um conselho para alguém que agora entra neste mundo...
-Pedro Brandão: Vão ao Fórum do COV em http://cov.myfreebb.com. Queremos que seja o melhor sítio para começar e depois partir para voos mais altos. Provem muito em variedade, de preferência com companhia para conversar sobre o tema. Não comecem por coisa muito cara, eduquem primeiro o nariz, a boca e a mente, edepois comecem a subir de nível.

-Copo de 3: Foi um prazer meu caro amigo...
-Pedro Brandão: Foi todo meu!



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