Na adega do diabo, sob as bençãos de Don Melchor
Vinhos

Na adega do diabo, sob as bençãos de Don Melchor



No ano de 1883, Don Melchor de Concha y Toro regressou da França com algumas mudas de parreira na bagagem. Tão logo chegou à propriedade situada a pouca distância de Santiago, tratou de plantá-las no vasto pomar. As jovens videiras cresceram, frutificaram e permitiram à Casa de Concha y Toro fabricar seu próprio vinho. Para proteger tal patrimônio, Don Melchor guardou seu vinho no porão de sua residência e, com o intuito de espantar visitantes mal intencionados, espalhou pela região que, por trás daquelas portas se encontrava o inferno e aquele que por ali se aventurasse seria recebido por el diablo em pessoa. Só que essa é a história oficial.

Sabia-se à época, que Don Melchor produzia vinhos de qualidade e que estes eram armazenados no porão da residência dos Concha y Toro. Mas também não era segredo o fato de que o nobre nutria grande simpatia por uma sobrinha, a bela e fogosa Doña Amelia. Também não haviam de passar despercebidos os estranhos ruídos - e gemidos - que vinham do porão nas noites em que, coincidentemente, Doña Amelia por ali pernoitava. Para que tal mistério não passasse sem explicação, foi criado o mito de que naquele subterrâneo não se escondia o Toro de Don Melchor nem a Concha de Doña Amelia mas os vinhos preferidos do inominável.

O tempo passou e a nobreza de Don Melchor reside hoje num dos grandes Cabernet Sauvignon do Chile, o corpo da fogosa Amelia chega até nós por meio de um dos melhores Chardonnays do continente, e o tal Casillero del Diablo hoje pode ser encontrado em qualquer supermercado. No Chile, é verdade, não dão grande coisa por ele. Ao contrário de Don Melchor e Amelia não se tem em grande conta o Casillero. Apesar de ser este o vinho servido àqueles que visitam à Casa Concha y Toro, é considerado um vinho menor. Pode ser. Para eles. Porque este Casillero Carmenere 2005 foi uma grande surpresa. E recebeu análise à altura nos blogs Vinho para Todos, Vivinhos, Le Vin au Blog e Viva o Vinho.

Carmenére é a uva que foi dada por extinta e, se hoje está mais viva do que nunca e fazendo bons vinhos varietais, foi graças aquele punhado de mudas que Don Melchor trouxe na bagagem. No meio delas se escondia a última Carmenére. Que vingou, cresceu e frutificou e deu vinhos como se fosse uma Cabernet Franc. Foi preciso que um enólogo francês a reconhecesse e trata-se de reabilitá-la. A singela Carmenére. A nobre uva bastarda que agora emerge, não das cinzas do inferno, mas da bem cuidada produção dos Concha y Toro.




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