Expovinis - uma imensa jaca
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Expovinis - uma imensa jaca


Ao chegar fomos calorosamente recebidos pela fila, como mortais que somos. Enfrentamo-na com altivez, tentando entender porque os profissionais do vinho são mais importantes que os consumidores. Talvez o mundo ideal do vinho devesse ser habitado apenas por produtores e profissionais, sem aquela horda chata de bêbados anônimos. Mas como alguém tem que pagar a conta... pagamos 40 reá cada um para entrar.

Na entrada os deuses adentravam ao Olimpo com seus pomposos crachás, acompanhados de charmosos apitos dos aparelhos reconhecedores de códigos de barra, enquanto os mortais se amontoavam do lado de fora, esperando os 3 minutos que faltavam para as 19hs. E o relógio do segurança/porteiro parecia estar atrasado.

Quando finalmente adentramos ao recinto, tivemos que enfrentar o amontoado de pessoas que se acotovelavam pelas taças, mas não se acotovelavam de qualquer jeito, sempre com elegância, pompa e circunstância, como o mundo do vinho exige. É claro que os estandes de Borgonha não estavam logo na entrada. É claro que começamos pelos brasileiros logo da entrada e demoramos alguns minutos para chegar aos borgonhas, e quando chegamos as garrafas estavam já nos últimos goles. Estes vinhos são néctar para os Deuses, não para os mortais.

Como mortais que somos, formos ignorados no estande por diversos minutos, até que fomos agraciados com meio gole de um Bourgogne básico. Vimos um Chassagne-Montrachet, grand cru, meio escondido, um pouco mais abaixo, com rótulo meio virado para trás, e ousamos pedir para provar um pouco, já abaixando e esperando o tapa. Estávamos tímidos, meio envergonhados, parece que não éramos tão bem vindos naquele estande quanto nos estandes nacionais de vinícolas quase anônimas. Mas fomos agraciados com 1/4 de gole, que já foi suficiente para um pequeno delírio.

Estranho, a entrada dos consumidores estava marcada para as 19hs e as 19:20 só tinha dois estandes de borgonha aberto. Quando chegamos a um deles o outro já estava fechando, mas ainda deu tempo para alguns meios goles em um Petit Chablis. Claro que o Chablis Grand Cru estava com o rótulo virado para trás, mas nosso faro o percebeu e conseguimos 1/4 de gole dele também. Já era o fim de feira nos estandes de borgonhas, mas um pobre treinado consegue extrair o filé do resto.

No estande ao lado tinha umas garrafas largadas, sem atendentes, chegamos a elas e conseguimos alguns goles no esquema self-service. Um Pully Fumée, alguns outros borgonhas tintos bem interessantes. Outros excluídos estavam precisando apenas ver alguém se servindo para perderem a vergonha e fazerem o mesmo. Vi um outro amigo mortal ao lado, e quando cheguei às garrafas que ele estava esvaziando ainda consegui pegar um golinho de um fantástico Chambolle-Musigny.

Pois é, foi assim mesmo, parecia que estávamos fuçando o lixo dos ricos atrás de alguns restos, algo humilhante demais para quem não é cara de pau. Passamos um pouco do nosso óleo de peroba e seguimos atrás de fantásticos restos. Ficamos amigos dos outros mortais que estavam fuçando os restos, o que rendeu um ótimo e animado papo sobre vinhos.

A visita aos Brasileiros foi muito boa, fomos muito bem recebidos em todos eles, batemos papos muito animados e interessantes com os donos das vinícolas e representantes e experimentamos vinhos ótimos. Os vinhos brasileiros estão de fato melhorando muito e é necessário desfazer o preconceito com eles, e explorar melhor os nacionais, que merecem atenção. Nem é preciso falar sobre os espumantes maravilhosos, mas é bom lembrar que existem muitos desconhecidos excelentes.

Bem, visitamos ainda importadores de nacionalidades diversas, Gregos, Portugueses e Espanhóis. Os gregos foram os que mais surpreenderam pela qualidade e novidade. Um Sul Africano branco também nos surpreendeu. Obviamente não lembramos o nome dele. Terminamos no estande da Bodegas, um importador multi-marcas muito interessante, onde provamos bons vinhos, mas o que valeu mesmo foi o papo com o dono do lugar, um chileno chamado... Um papo longo, descontraído e enriquecedor.

Apesar da discriminação com os consumidores, como bons brasileiros que somos o preconceito não levou nossa alegria embora. Fomos embora de taxi embriagados de felicidade, querendo voltar no dia seguinte, ou nascer Deus na próxima encarnação.



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