The Velvet Underground — Loaded
Vinhos

The Velvet Underground — Loaded


14/1/2002. Gosto de droga. Nos últimos dias, pouco tenho feito para além do acto de consumir. De certa forma, isso entristece-me, mais do que por me sentir encaminhado para uma dependência a que não sei se conseguirei escapar, porque faz tempo que ela não me traz nada de novo.

Os estupefacientes, parece-me, agem pela indução de certos estados de espírito; aquilo que de objectivo possa advir desses estados tem muito mais do indivíduo que do efeito per se da substância. E se a princípio as drogas me pareciam engraçadas, mais que pelas sensações imediatas, pelos sentimentos que despertavam, devo confessar que tal já não acontece.

Mesmo assim, a vida continua. Na última sexta-feira, comprei 25€ de erva brasileira a um amigo e fui para casa ganzar-me sozinho, como de costume.

O ritual de preparação de um cigarro de marijuana é sempre o mesmo. Fiz quatro unidades com mortalhas king size, apenas um pouco de tabaco a servir de tempero, e condensadores descartáveis, aqueles que se aplicam nos cachimbos, na função de filtro, em vez do mais comum bocadinho de cartão enrolado em "s".

Pus o Loaded a tocar, diminuí a intensidade das luzes e deitei-me em cima da cama, caderno e esferográfica ao lado, acendendo logo de seguida o primeiro da noite.

[Carregar no play, sff.]


Fumei-o em pouco menos de vinte minutos. Não fiz intervalo entre o primeiro e o segundo, que acendi imediatamente. Lembro-me de ficar completamente imóvel, de olhos semicerrados, atento à música.

I found a reason to keep living / Oh and the reason, dear, is you / I found a reason to keep singing / Oh and the reason, dear, is you / Oh I do believe / If you don't like things you live / For some place you never gone before.

Sorriso plácido. A planície imensa, gelada e deserta, longe de tudo. Sem neve, sem terra. Nem uma montanha ao longe. E eu sozinho, filme envolvente, cabeça parada. Escrevi que nunca me senti tão bem!

Mas o disco acabou. O meu universo de ocasião desmoronou-se perante um eu perplexo, quase em estado de choque, e acordei de lágrimas nos olhos, ainda que nem sequer tivesse chegado a adormecer.

Levantei-me a custo, recolhi o disco e acendi o terceiro cigarro. Reparei que ainda tinha por consumir metade das doses de droga que preparara. Viva, Viva! Já estou todo fodido e ainda me falta outro tanto!

Que momento de glória! Naquele momento, senti que ninguém me podia fazer mal, que estava seguro, como quando era criança e jogava futebol com os bonecos que vinham nos bolos de aniversário e uma bola de grão de bico, alheio ao mundo de feras que me aguardava lá fora.

Quando dei por mim, estava a espojar-me no chão do quarto, a entoar risadas ridículas, todo babado, o cigarro apagado ainda na boca. De volta ao mundo do mundo, levantei-me e acendi-o outra vez. Depois sentei-me no parapeito interior da janela, a olhar para o céu.

O resto da erva esfumou-se num ápice. Desliguei o som. Nessa altura, apesar de muito drogado, sentia-me lúcido e com vontade de descrever just in time aquilo que sentia. O meu filme. Foi o que fiz.



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