Vinhos
Provas especiais
"Portfolio" de vinhos únicosFoi há pouco mais de uma semana que tivemos a oportunidade única de jantar, pela primeira vez, na Feitoria dos Ingleses ("The Factory House"). Localizada na baixa do Porto, num edifício histórico, tem sido, faz séculos, o local de reunião de produtores e enófilos com sotaque "very british" e é, naturalmente, o local de abrigo também de uma garrafeira magnífica de vintages (consta, aliás, que a admissão na Feitoria implica a entrega de algumas caixas de bons vintages).
A ocasião era o jantar patrocinado pela "Portfolio Vinhos" (empresa que associa a família Symington a Joaquim Augusto Cândido da Silva), mas a cerimónia só ocorreria verdadeiramente com a degustação de vinhos que, por motivos diversos, eram quase únicos ou, pelo menos, de muito difícil acesso.
Foi, assim, com muito deleite que começámos por provar um ensaio de Anselmo Mendes, um vinho branco chamado Perdido (B) 2001, um vinho fantástico onde complexidade e elegância andam de braços dados (17-17,5). Segundo o próprio Anselmo existiam antes da prova apenas 6 garrafas... agora talvez nem uma. Provámos também (e já com saudade) as últimas garrafas de um dos primeiros vinhos de José Mota Capitão, denominado pelo produtor por Brisa da Herdade do Portocarro (T) 2003, um vinho feito de vinhas Sangiovese muito jovens, imberbes mesmo, que desafiou a clássica concepção de que só as vinhas velhas podem produzir grandes vinhos (17).
Mantendo-nos no plano doméstico, da Bairrada, veio um interessante Kompassus Reserva Particular (T) 1991, em plena forma e com altiva complexidade faltando apenas, a nosso ver, alguma sedução ao conjunto (16,5-17); como veio também, mas agora das terras do Dão, um enorme Quinta da Falorca (T) 1963, um tinto eternamente na "meia-idade", um tinto que parou no tempo, ainda pujante e com laivos de fruta encarnada (17-17,5). Do Alentejo um imponente Terrenus Reserva (T) 2004, que deu, uma vez mais, uma prova inesquecível com aromas trufados e a frutos encarnados inebriantes (17,5++).
Pelo meio, prova de dois estrangeiros: um Château de Beaucastel (T) 1989 e um Don Melchor (T) 2001, nenhum desapontou (bem pelo contrário) e cada um mostrou-se fiel ao seu estilo: fantástica a prova do francês, revelando uma boca com fruta, terra e ligeiro toque animal (17-17,5); quanto ao tinto chileno, irresistível na sua compota frutada e na textura aveludada que mantém (17).
Tempo também houve para vinhos de perfil mais doce que brilharam muito alto: Hugel Gewurztraminer Sélection de Grains Nobles (B) 1985, da família Hugel & Fils servido em magnum, em perfeito momento de prova já com as notas de evolução típicas da casta, delicioso! (18+); Dow's Vintage (P) 1963, servido também em magnum, sempre um dos nossos favoritos, infelizmente, desta feita, ligeiramente abaixo de provas anteriores (17,5-18); e, o Graham's Malvedos Vintage (P) 1965 um belíssimo vintage que provámos pela primeira vez, mas que gostámos tanto, pois esteve saborosíssimo na prova de boca (17,5-18+), que quase suplantou o Dow's servido anteriormente, tendo ainda com muitas "pernas para andar" em cave.
Para o fim, e após uma tímida flute de Pol Roger Sir Winston Churchill (Esp.) 1996, dois magníficos fortificados lusos: o Warre's A. J. Symington Colheita (P) 1882, um super colheita, de cor castanha e acobreada, intenso e harmonioso, com vinagrinho delicioso, nada pesado e nada extra-doce, boa acidez e um final interminável (19); e, o Blandy's Terrantez (M) 1899, um Terrantez de outro mundo, sufocado com notas de caril e vinagrinho, ligeiramente seco na boca, acidez alta como quase sempre acontece com os vinhos da Pérola do Atlântico, e um final de boca de "largar família", como dizem os brasileiros (19). Foi a melhor maneira de terminar a noite, e foi a prova - como se (ainda) fosse preciso prova... - que os Portos e os Madeiras, quando bons e velhos, estão entre os melhores vinhos do Mundo!
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