Quando se prova um vinho ou vários vinhos, sozinho ou em grupo, um dos possíveis tipos de prova a ser utilizada é a Prova Cega. Quem não sabe a Prova Cega é uma prova em que o provador não sabe que vinho está a provar uma vez que as garrafas se encontram tapadas. Dentro do estilo temos também a prova cega dupla, onde não sabemos nada sobre os vinhos em prova, como ano, zona, tipo de vinho…
Este tipo de prova é bastante útil, e permite ao provador descobrir melhor os seus gostos, e perder certos medos ao analisar algo que desconhece, sendo este um acto de bastante humildade e que se torna bastante educativo.Quando os vinhos provados são completamente diferentes seja em castas, estilo ou ano, recomenda-se uma prova normal dos mesmos.
E como se prepara uma prova cega ou uma dupla cega?Neste caso, temos de ter sempre alguém que nos prepare a prova, caso a prova seja em casa de um amigo, ou se levam as garrafas já tapadas, sabendo cada um o vinho que leva, ou é o nosso amigo que conhece todos os vinhos em prova, mas o objectivo é sempre tapar as garrafas, esconder tudo o que dê informação sobre o vinho em prova, como cápsulas, rolhas… numerar cada garrafa e cada decanter, e mesmo os copos para evitar possíveis trocas. Cada provador, anota a sua opinião sobre cada vinho e no final é discutido por todos.
Nos casos de concursos de vinhos, lançamento de guias… nestes casos a prova cega é mais que obrigatória, e torna-se essencial para o provador manter uma imagem imparcial e isenta, afastado de qualquer ajuda a um possível rótulo amigo. Mas será que uma pessoa como é o crítico, auto-denominado especialista em vinhos, não tem a capacidade para se abstrair do peso de marca, nome do produtor e todos os restantes factores que podem influenciar uma prova?Será que depois será acusado de não ser isento? Normalmente um crítico que se seja digno desse nome, prova sozinho, mas aí mete-se um problema... como é que uma pessoa provando a sós, consegue que a prova seja cega? Deste modo não está a ser isento, pois sabe o que está a provar. É nestes casos necessário alguém que lhes prepare as provas, e se não tiver, então dificilmente consegue fazer com que a prova seja cega.
Imaginemos um crítico sentado no seu sofá, depois de ter numerado todas as suas garrafas, virar-se para o filho mais novo e dizer: Rapaz, tira aí um papel da caixa, mostra à tua mãe e ela que vá buscar a garrafa, mas que venha com o rótulo tapado. Enquanto isto, a filha mais velha tapa os olhos do pai com uma venda, para que assim se evitem possíveis tentações. Claro está que não se pode correr o risco de pedir à mulher ou aos filhos para escolherem uma garrafa ao acaso, porque arriscamos a dar de caras com a jóia da nossa garrafeira aberta para acompanhar umas espetadas de porco com arroz branco.
Faz-se a pergunta: E se o vinho é uma novidade, ou nos é desconhecido, tanto faz ser prova cega ou não?Imaginemos um vinho vindo da China ou da África do Sul, ou mesmo da Grécia, o facto de ter o rótulo visível penso que em nada vai influenciar a prova. Se tal for possível, não se entende então a razão da prova ser cega, mas esta conversa pode dar pano para mangas. Podemos perfeitamente provar um vinho do Douro, Dão ou Alentejo, cara a cara com o rótulo e seriamente avaliar o prazer que o vinho nos proporciona, as suas qualidades... mas será que o rótulo não vai ter sempre um peso na nossa consciência?
A hipótese de se querer beber um dito vinho numa noite, e fazer a prova do mesmo, será escusado de fazer prova cega, não seria bonito dizer: Maria hoje vamos provar o Mouchão novo, traz a garrafa mas tapa o rótulo que a prova é cega... Não, este exemplo não será o mais correcto. Provar sozinho parece um pouco complicado, completamente diferente do que provar em conjunto com os amigos, onde aí sim, podemos organizar as provas cegas ou dupla cega, com mais rigor. Apesar de tudo uma prova cega, obriga-nos a concentrar e a confiar inteiramente no que os nossos sentidos apreendem – e não no que diversas pré-concepções sugerem que devem apreender.
É questão de dizer que: quem já sabe aprecia, quem não sabe aprende.
Fica ao critério de cada um... mas fica a sugestão, faça uma prova cega com os seus amigos dedicada a um tema, por exemplo uma prova de Touriga Nacional 2003, Grandes do Alentejo, por brincadeira podem colocar um «vinho intruso» que nada tenha de semelhante com os outros, por exemplo um Tinta Roriz numa prova de Touriga Nacional, divirtam-se e aprendam com algumas partidas que os vinhos nos pregam, será sempre algo útil e didáctico.