Vinhos
Niepoort Garrafeira 1931
Situadas na Rua Serpa Pinto, Vila Nova de Gaia, as caves da
Niepoort servem de ginásio a todos os vinhos do porto deste produtor, é ali que os vinhos se colocam em forma até estarem prontos a sair para o mercado. As máquinas à disposição naquele espaço variam desde as madeiras, garrafas ou os peculiares demijons, sob batuta atenta do
Masterblender,
Sr. José Nogueira, cuja ligação familiar à Niepoort remonta já ao seu pai, e estendeu-se em 2006 ao seu filho. É neste mesmo local que a magia acontece, uma autêntica fábrica de sonhos engarrafados, seja no formato Ruby, Tawny ou
Garrafeira.
"Eu diria que os 'Garrafeiras´ são os mais elegantes tipos de Porto, passam entre três a seis anos em madeira e depois são engarrafados em garrafões de vidro - dimijons - do século XIX. Este envelhecimento parece que lhes dá uma enorme elegância. Quando um 'Garrafeira' é bom, ... é fantástico!"
Dirk Niepoort
Desde que comecei a dar atenção ao mundo dos vinhos, algo que sempre me fascinou e fez parte dos meus desejos enquanto enófilo, foi poder provar um Garrafeira Niepoort. Por sorte esse ritual já se realizou por duas vezes, com uma estreia que para mim não podia ser melhor visto ter sido com o Niepoort Garrafeira 1977 (ainda por sair para o mercado), o ano do meu nascimento, e a mais recente prova foi também ela, um momento raro, com a abertura de um demijon de 1931.
Nos dias que correm, o estilo de Porto, Garrafeira, é um exclusivo da Niepoort, e pelos preços que atingem tendo em conta a raridade dos mesmos, tornam-se objecto de culto e poucos são aqueles que lhes têm acesso. Comprova a sua raridade as poucas vezes em que foi feito e se apontei correctamente todos os anos (caso falte algum é favor indicarem): 1931, 1933, 1938, 1940, 1948, 1950, 1952, 1964, 1967 e 1977 (este último ainda por sair para o mercado).
O Garrafeira Niepoort é sempre de um ano específico, tal como os Colheita, onde após um estágio em madeira que poderá variar entre os 3 e os 6 anos, o vinho é transferido para demijons.
Um demijon ou "demijohns", é uma espécie de balão de vidro que varia entre os 7 e os 11 litros de capacidade. Foram comprados pelo bisavô de Dirk Niepoort no séc. 19, tendo sido produzidos na Alemanha em Flensburg no século 18. É então nestes peculiares recipientes que o vinho irá estagiar por longos períodos, podendo chegar mesmo aos 50 anos, sofrendo assim uma lenta oxidação (é mais lenta em vidro do que em madeira). Quando termina o estágio, o vinho é decantado e posteriormente engarrafado em garrafas de 750ml, onde vai permanecer o tempo necessário até ser colocado à venda ao público.
Caracterizar um garrafeira pode não ser tarefa fácil, mas dos dois que tive a oportunidade de provar e embora lhes tenha encontrado traços similares, notei que por exemplo o 1977 pareceu ter uma tonalidade mais aproximada a um tawny velho, enquanto que o 1931 a tonalidade lembrava um pouco mais o estilo ruby no meio com tiques de tawny no rebordo. Direi mesmo que o Garrafeira combina o melhor dos dois estilos Ruby e Tawny, indo mais longe, talvez arrisque a dizer que por isso mesmo seja o estilo de porto perfeito. A eles, aos Garrafeira, fica sempre associado o famoso "cheiro a garrafa" derivado do longo contacto com o vidro, e os aromas daquele 31 acabado de sair do demijon é coisa que me ficará na memória.
Naquele fim de almoço, que já aqui relatei, tive a oportunidade de presenciar a abertura de um demijon Garrafeira 1931 da Niepoort, e de provar um vinho com 79 anos de vida acabado de sair do único reduto que conheceu no último meio século de vida, após passagem durante 4 anos em madeirasem, sem que tenha sido decantado ou engarrafo previamente, o que aumenta ainda mais a exclusividade do momento. Um registo que fica para a vida, quer pela emoção que sentimos naquele instante, quer pela raridade que o próprio acto envolve. O Garrafeira Niepoort 1931, mostrou-se delicado, fresco, com um bouquet de enorme finesse e elegância. A precisar de muito tempo para despertar no copo, mostrando uma boa intensidade de aromas, rebuscando um pouco de tudo, misturando fruta madura com fruta em passa, vinagrinho, especiaria doce, uma complexidade que parecia nunca mais querer acabar... uma autêntica caixa de aromas. Boca muito equilibrada, muito mesmo, frescura sentida, boa espacialidade e ao mesmo tempo a mostrar-se delicado. Com uma doçura não muito pronunciada, equilibrada pela frescura e por um final de grande persistência. Sei que por mais que queira escrever sobre este vinho, vai ser sempre pouco, a nota aqui é o que menos interessa.
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