Vinhos



Três anos depois... (ou «tintos e brancos mais frescos»)


Já lá vão praticamente três anos e meio de Saca-a-Rolha. Não será, certamente, tempo suficiente para fazer uma resenha (muito menos histórica) sobre a evolução dos vinhos nacionais, mas servirá, a nosso ver, para constatar duas tendências que consideramos muito positivas no mercado doméstico. Em bom rigor, trata-se apenas de uma única tendência (admitimos nós) mas com duas manifestações...

A primeira delas relaciona-se com a produção de vinhos tintos mais frescos e gastronómicos em claro contraponto com a tentativa de seguir o modelo dos tintos do "novo mundo", bem visível nas colheitas compreendidas entre 1997 e 2003. De facto, sobretudo desde a colheita 2004 - já de si uma colheita ideal para vinhos com boa evolução -, surgiriam cada vez mais tintos com um perfil acentuadamente sério, constituindo disso bons exemplos, entre vários outros, o transmontano Vale Pradinhos Reserva (T) 2004 (a menos de €20), os durienses Quinta da Sequeira Grande Escolha (a menos de €25) e o Pinote (T) 2005 (a menos de €12), bem como vários tintos alentejanos como os que resultam do projecto Altas Quintas (com preços entre os €9 e os €30), mas também o Roma Pereira (T) 2005 e claro o super-taninoso Grou (T) 2005 (ambos a menos de €20). No Dão nem se fala tantos que são os tintos nesse registo fresco e gastronómico, apesar dos alegados abusos no uso da touriga nacional... quedamo-nos, quanto a exemplos, pelo Quinta da Vegia Reserva (T) 2005 (a menos de €25) e pelas monocastas tourigas da mesma colheita provenientes quer da Quinta do Perdigão (a menos de €25) quer da Quinta da Fata (a menos de €20).

A segunda manifestação é a busca por brancos também eles cada vez mais frescos, com uma boa acidez e, em alguns casos, secos. Nos brancos, a colheita de 2005 e, sobretudo, a de 2007, possibilitou a produção de vinhos de qualidade muito elevada. A par de diversos verdes (Soalheiro, Muros de Melgaço, Ameal, Lixa, etc), vários são os brancos do Douro e do Dão que, não sendo muito caros, começam a ser um caso sério no que respeita a níveis de frescura, abandonando assim modelos de produção onde a madeira nova se encontrava muito marcada e se pretendia vinhos pesados e exageradamente untuosos. São caso disso, no Douro, os recentes Trilho (B) 2007 (a menos de €15), o Encosta Longa Reserva (B) 2007 (a menos de €10), o perfumado Aneto (B) 2007 (a menos de €15) - para não falar dos Niepoort, com destaque para o delicioso Tiara (B) 2007 (a menos de €15) - e, no Dão, o Quinta do Cabriz Encruzado (B) 2007 (a menos de €10) ou o Quinta dos Roques Encruzado (B) 2007 (a menos de €12). No Alentejo, são igualmente vários os brancos cada vez mais frescos, com destaque evidente para os produzidos a partir da casta antão vaz e, a título individual mas ainda como mero exemplo entre outros, para o Conde de Ervideira Reserva (B) 2007 (abaixo dos €10). Mas, claro, não nos ficamos por estas regiões, nem pela colheita de 2007, bastando para isso fazer notar a excelência do Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006 (a menos de €13), um belíssimo vinho da Estremadura logo num ano particularmente difícil para a produção de brancos frescos e secos.

Com o suposto "aquecimento global do Planeta" (que não se nota nem um pouco neste Verão de 2008, à semelhança do que sucedeu em 2007), são duas óptimas manifestações de uma mesma óptima tendência (repetição à parte); dizemos nós em forma de festejo!
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Ora, foi exactamente num festejo que tirámos a fotografia que se encontra no canto superior direito deste texto. Evidentemente, foi necessária uma considerável dose de acaso e (sobretudo) de sorte para a conseguir (os leitores sabem bem que a fotografia não é o nosso forte...), mas julgamos que fica muito bem a encabeçar esta pequena nota escrita respeitante à passagem de mais de três anos do blog Saca-a-Rolha.
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PS: Quanto aos vinhos da fotografia, o Chryseia (T) 2006 está ainda "fechado", e revela-se por ora um pouco austero; o Quinta do Crasto Maria Teresa (T) 2005 mantém-se simplesmente sublime. Ambos os vinhos são caros e, por isso, recomenda-se que sejam bebidos apenas em cerimónias ou ocasiões muito especiais. Foi o caso!



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