Os Mistérios da safra

Os Mistérios da safra

Nelton Fagundes- sommelier da Enoteca Decanter

Uma grande curiosidade dos apreciadores de vinho diz respeito às safras. Levando em conta minha experiência na loja e no restaurante notei que a safra, para muitos clientes também passou a ser um mito. Alguns clientes me contam como ouviram falar que as safras ímpares são melhores, ou pensam que o ano vinícola vale para o mundo inteiro, ou mesmo para todo um país.
E o que vem a ser a safra? É o conjunto de variações climáticas que, se estiverem de acordo com o ciclo da planta, vão facilitar a produção de uma fruta saudável (o vinho vem da uva e para que ele seja de qualidade é primordial que ela esteja em perfeito estado na hora da colheita e vinificação). E o clima, como sabemos, varia de região para região. E dentro de regiões, o micro clima varia entre si. Por exemplo, me perguntam, "o ano X não foi um ótimo ano na França?". A França, assim como qualquer lugar do mundo, é geograficamente diversa. Como disse, o micro climas varia mesmo dentro da mesma zona de produção. Ele pode variar dependendo da inclinação da encosta - se está voltado para o sul, sudeste, norte - ou para onde quer que seja. O solo também influi, o subsolo idem, o tipo de vento aquela região recebe, quantas horas de sol, quanto de chuva, enfim, são muitos os fatores que influenciam o ano vinícola ou a safra. A este conjunto de fatores chamamos de "terroir" (não confundir apenas com a terra ou solo onde está plantada a vinha).
E não é só isso. Temos também o perfil do produtor. Por melhor que seja o ano, se o produtor não é cuidadoso com suas plantas (videiras), o vinho não terá boa qualidade. Se produzir grandes quantidades de cachos (altos rendimentos), se não tratar as vinhas com os produtos certos, enfim, se não estiver atento, não há natureza nem "terroir" que segurem a qualidade. Dizer que um determinado ano foi maravilhoso na Toscana, por exemplo, não significa de modo algum que todo o vinho da Toscana produzido naquele ano seja de qualidade. Cada produtor cuida de forma diferente da sua plantação e podemos até encontrar vinhos horríveis em safras míticas (safras históricas) se o produtor não primar pela qualidade.

Os vinhos do velho mundo recebem maior importância da safra no momento da compra. Na Europa o clima é mais instável, por exemplo, do que em países do novo mundo. Nestes últimos, os vinhos são produzidos em regiões de climas mais quentes tornando as variações entre as safras menos óbvias, apesar de existirem. Como em geral o clima ajuda, a uva costuma sempre amadurecer e resultar em vinhos maduros logo de cara. Por isso, na dúvida, pode ser interessante escolher um vinho desses países. Sim, é importante ter uma noção do que aconteceu nos países em termos climáticos nas diferentes safras. Mas não torne isso uma prisão. Deixe sua tabelinha de safras em casa para ir ao restaurante ou loja de vinhos, e deixe-se surpreender, a vida é feita de erros e acertos... Isto vale para o vinho também!
Segue minhas sugestões para este mês frio.
( Portugal) Caldas Alves de Sousa 2006 R$ 52,30
(Espanha) Tempranillo Pago de Cirsus 2006 R$ 43,55
(Itália) Basbera D’Asti Araldica R$ 59,83
( França) Bourgogne Pierre Labet 2006 R$ 90,60
(Argentina) Malbec Reserva luigi Bosca R$ 63,30
( Chile) Memórias El Principal R$ 139,60
Saúde e até a próxima!
Nelton Fagundes

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