Velharias (11)
Vinhos

Velharias (11)



Mais um post não culinário, daqueles de que vocês não gostam, pois então.





Ouvir vozes em sonhos, vozes que narram o sonho. O repetir de uma frase dentro da cabeça até acordar. Às vezes, quando me aproximo, as feras aguardam, pousadas na superfície do lago, à beira da morte. Longe, ao largo, à torre da igreja, roçam os bicos, salpicados de vontades cinzento-carmim. Mordem, mordem, mordem.

Às vezes, parece que todo um sonho foi uma simples frase. Isso não está bem.


1.



fragmentos
tralha

um exercício de anulação
(linguística)


2.



Talvez o motivo pelo qual não me lembro de boa parte dos últimos anos seja, simplesmente, não ter acontecido praticamente nada de que possa lembrar-me, dentro ou fora de mim.

E agora ainda me armo em cínico...


3.

(Faduncho Mau)



O estudante que é drogado
É drogado toda a vida
Desconfiado como um rato
Neg' a OD e teme a SIDA.

A vida curta
É gosto raro
É tinto caro,
Pernas de rã.

Vão-se as ideias
Ficam saudades
É um mau fado
São esperanças vãs.

*


Gostava de, um dia, ir por aí e ouvi-lo, na rua, cantado por alguma trupe de "estudantes" velhos, rançosos, a cair de bêbedos, vindos da noite. Garrafas e putas instantâneas sob as capas negras.


4.

(Conversas de Merda)



Rodam charros e eles conversam.

Não, não... isso é normal na Hungria. Um desgraçado qualquer, com um macaco qualquer, a cravar trocos pelas esquinas. Como aqui. Mas sabes o que é que eles fazem lá? Tocam violino. Encontras um bardamerdas em qualquer esquina, um Zé Pedro, agarrado ao violino. Qualquer macaco toca violino.

Foda-se! Nós somos mesmo uma escumalha fodida! Cá, arrumam carros; lá, tocam violino! Foda-se! Não é?!

Não estás a ver bem!

Mas a Hungria também é um país pobre...

Sim, é. Mas cuja população apresenta um nível bem maior de educação. É um país que, neste momento, está num nível económico ligeiramente inferior ao nosso; só que eles têm uma coisa, indústria pesada, alguma, aquela que eu fui ver. Vão papar-nos num instante. As pessoas são conscientes e civilizadas. Não há porcaria nas ruas, as pessoas sabem melhor do que nós aquilo que têm de fazer. Por exemplo, não há tascas! Não é como aqui!

Ora foda-se, ouve lá, foda-se, também... nem oito nem oitenta, caramba!...

Então a traça enorme com que me mantivera distraído na última meia hora, voou para a rua. Aquelas duas bestas calaram-se. Estava a dar o Heat na TV.


5.



«Jorge, escreve: O que é feito do Cordeiro? Por onde andará aquele homem? Aquele rapaz? Terá emigrado ou terá morrido?»

Respondi-lhe com outra pergunta: «Se o Cordeiro romper o contacto, que presumir? Que terá emigrado ou que terá morrido?»

«Terá emigrado para uma outra vida melhor? O Cordeiro está meio bêbedo, ai isso está! Meio bêbedo... Mas pensativo...»

Continuou: «O Cordeiro está triste. Mas com esperança... Não sei muito bem onde a radicar, mas acredito... Mas com muito medo de que a esperança não passe de uma miragem, de uma ilusão.»

Deteve-se por um momento, olhando pela janela escancarada. Depois continuou: «É o karma! Mau karma! Dá-me umas coisas, mas tira-me outras. E aquelas que me dá, tira-me mais tarde...»

E continuou a repetir num tom átono: «Onde estará aquele rapaz?»

Eu lá ia escrevendo o que ele ditara. Passaram quase dois anos, e agora, sim, pergunto-me onde estará aquele rapaz.





Ah, os anos. Passaram ainda outros três. . . quatro; continuo na mesma, sem nada saber.



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