Tapada de Coelheiros 1996
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Tapada de Coelheiros 1996


Convém desmistificar desde já que aquela ladainha de que os vinhos do Alentejo não sabem envelhecer é pura mentira. E como qualquer conversa que não passa de uma mentira,  nas bocas certas e levada à repetição exaustiva faz com que de mentira passe rapidamente a verdade. O consumidor incauto é quem paga e levado no engodo é empurrado para outras zonas que na altura seriam mais aliciantes de promover, digo promover porque em determinadas alturas mais parece que se quer promover a região do que "questionar" o vinho que se tem no copo. Nunca fui pessoa de dar ouvidos a gente dessa, sempre tive a sorte de ir acompanhando alguns projectos e respectiva evolução dos seus vinhos, o certo é que uma grande fatia dos vinhos mais entusiasmantes com idade que são neste momento bebidos com enorme prazer, são do Alentejo. A verdade não deve envergonhar e nomes como os antigos Mouchão, Quinta do Carmo Garrafeira, José de Sousa Tinto Velho, Coop da Granja, Montes Claros, Tapada do Chaves "Frangoneiro", Coop Portalegre... com a sua respeitável idade são vinhos que passados 15 20 anos dão uma prova notável... provando que o que era e continua a ser dito por alguns não passa de uma enorme mentira.

Dentro do lote dos veneráveis temos o Tapada de Coelheiros, onde a mestria do enólogo António Saramago o fez brilhar e elevar ao estatuto mais alto dos vinhos do Alentejo, o nome Tapada de Coelheiros é nome de respeito, a qualidade que ostentou no passado disso foi responsável, a marca deixada pelos primeiros Garrafeira fez com que um novo capítulo fosse escrito, quem é que ficou indiferente ao Tapada de Coelheiros Garrafeira 1996 ? Nos tintos Tapada de Coelheiros posso dizer que havia (infelizmente nos dias de hoje a coisa tem vindo a mudar) uma identidade a fazer lembrar Bordéus, fruto dos ensinamentos que teve o Mestre António Saramago quando estudou na dita região e que sabiamente soube interpretar e transmitir para os seus vinhos, cunho forte esse que perdura no tempo... tal como a grande parte dos seus vinhos, daqueles que quando novos são algo rudes e a precisar de tempo, taninos fortes, secura na boca, fruta carregada de sabor e tantas vezes encerrada em si mesmo, estruturados e com aquela capacidade maravilhosa de se aguentarem em garrafeira durante longos anos. Mas atenção, no Alentejo também se andam a fazer vinhos de agrado fácil e autênticos sprinters pagos a peso de ouro, vinhos sem alma e pejados de coisas amontoadas, tanto que recentemente numa prova de dois "grandes"  um Alentejo e um Douro... colheita 2003, se mostraram cansados e sem força de viver, a qualidade a fugir em grande escala ao preço que por eles é pedido e que vai para bem perto dos 40€ por garrafa.

Aqui mais uma vez entra em jogo um vinho com idade, neste caso 15 anos deste Tapada de Coelheiros 1996, aquele que secretamente venceu a talha de ouro da Confraria mas que apenas a ostentou quando levou um pouco mais de estágio e se apelidou de Garrafeira... um tinto que recorda os traços de alguns Bordéus mas com alma alentejana... é vinho dos grandes. Bouquet complexo e refinado, com frescura notável para a idade, especiaria e carga de vegetal não seco com fruta de caroço, algum licor a acompanhar e com toque de fumo, tabaco e bálsamo/floral suave a madeira vai para muito que se integrou e muito bem, todo ele muito sério, sóbrio e com saber estar, a pedir comida do tipo perdiz estufada. Na boca tem uma belíssima frescura, fruta a sentir-se de igual forma, com aquele pingo doce natural e o travo vegetal, bom especiado a surgir, travo de cacau, tabaco seco, pede comida por perto pois claro, depois complementa-se com muito sabor e prazer, tudo sem notas de estar cansado, de bengala ou a precisar de ir ao médico. São 15 anos num vinho de respeito e veneração... aqui não moram nem compotas nem madeiras a exalar baunilha em excesso nem doses de açúcar que nos deixam enjoados ao final do primeiro copo, aqui mora o saber, a paixão e mestria colocada por um dos Mestres da Enologia em Portugal.



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