Âmbar escuro, com rebordo esverdeado, mostrou-se um vinho enorme, muitíssimo concentrado, de toque oleoso e peso condizente, mas possuidor de uma acidez extraordinária, capaz de o elevar, de fazer cada bocadinho vibrar na boca.
Muito complexo, evocou coisas tão díspares como mel e iodo, passas, licor, café, cravo-da-índia e outras especiarias de tons afins, junto com elementos químicos e medicinais. Um vinho de meditação, verdadeiramente elegante e que perdurou muito, muito tempo no palato, com recuerdos de frutos secos no final.
Tentei sentir-lhe o Moscatel, aquela uva branca de floral adocicado e fácil, que faz brancos secos perfumados e generosos super doces, e por incrível que pareça, ao fim de mais de cem anos em madeira, o Moscatel ainda estava lá, o cheiro doce que tanto gosto de encontrar à sombra de certos arbustos floridos, em fins de tarde quentes, no "nosso" bosquezinho habitual: nem por isso intenso, mas profundamente entranhado.
Atribuir-lhe um
numerozinho da qualidade não foi fácil. Como a bitola de cada um se faz da sua experiência pessoal, dou-lhe a classificação mais alta por ser o melhor vinho que alguma vez bebi, independentemente do género, e por não lhe ter percebido nada em que devesse melhorar.
E isto traz-me à memória um professor de matemática que tive no liceu, homem severo, cirunspecto, mas de trato fino, que era conhecido entre os alunos como o "testa de ferro" e que por vezes afirmava, naquelas lavagens da alma que eram as aulas de auto-avaliação no final dos períodos, que "havia vintes e vintes". Ora, estes vinte valores não querem dizer que não espere vir a cruzar-me com vinhos ainda melhores; significam, apenas, que este, agora, para mim, esteve perfeito.
Na foto, a amostra que o produtor me remeteu em Novembro de 2014, num tubo WIT porreiro, junto com um convite para o respectivo leilão de lançamento, onde foram vendidas 100 das 180 garrafas de meio litro produzidas — as restantes permanecem na colecção privada da empresa. Ainda é relativamente fácil adquiri-lo, mesmo online, na Garrafeira Nacional, por exemplo, onde cada unidade de meio litro custa 780€.
Em 1911, os impérios russo e otomano ainda existiam; o comunismo era teoria. A Convenção Internacional do Ópio ainda não tinha sido assinada.
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Nem sempre foi assim, mas agora acredito que quanto mais específica a nota de prova, menos útil. Por honesta que seja a intenção, a volatilidade da experiência sensorial e a barreira da linguagem não perdoam. Tanto o vinho como quem o bebe mudam...