Vinhos
Amo-te '2006
Amo-te —
food, drink, music, love and lifestyle, dizem eles. Beh! Tenho de ser sincero: não gosto da marca. Parece-me tão de plástico, tão «eu também queria ser um vip da Vip»! Adiante. Outro reparo vai para a rolhita aglomerada que usaram para vedar as garrafas. Traz estampado um cacho de uvas, e em cada bago uma representação estilizada do que pretenderá ser o escudo das Armas de Portugal. Como se tal não bastasse, a senhora dona rolha ainda tinha de trazer, lado a lado com o belo desenho de que acabei de falar, a frase
«só castas PORTUGUESAS»! Olhar para ela leva-me a imaginar alguém muito parolo numa circunstância nacional-ruralista clássica, talvez o Saúl Ricardo ainda criança, vestido de campino, em plena lezíria — sem toiros bravos por perto — a dizer com aquela vozinha ordinária com que cantava o «bacalhau» . . . «Só castas portuguesas! 'arelho! É do bom! . . . e do melhore! Oié!» — Terrível, bem sei.
Já agora, Aragonês não é um dos nomes que damos ao
Tempranillo, uva (tanto quanto se sabe) originária do norte de Espanha? Oh, Portugal, Espanha, Roménia, lâminas, póneis, estrelas, Xzibit... é tudo a mesma coisa.
Volvidas estas linhas, não ficará o meu caro leitor surpreendido se lhe disser que foi de coração pesado que, aberta a garrafa, passei ao vinho. Mas há que tentar ser objectivo.
Nariz simples, correcto, agradável até, dotado de certa tipicidade — sobretudo de autor, diga-se sem veneno. Fruta madura, bastante madura, e muito balsâmico em fundo de leve tosta e chocolate. Quente e doce, definitivamente guloso. A passar lesto pela boca, um pouco agressivo, com acidez e adstringência pronunciadas. Também certo calor alcoólico, que nem a 15ºC deixou realmente de se notar. De resto, pareceu-me saber ao que cheirava — e isso, por norma, é bom. Em suma: embora nada de especial, agradável. Por mais deprimente que possa achar a imagem com que o apresentam, aqueles a quem faz olhinhos e aquilo que significa, o facto é que não posso penalizar o líquido por isso.
6,50€.
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