Alvear Pedro Ximenez de Anada 2004
Vinhos

Alvear Pedro Ximenez de Anada 2004


É na província de Córdoba que se situa uma das primeiras áreas vinícolas da Andaluzia, remonta ao séc VIII A.C., a D.O. Montilla-Moriles, que foi criada em 1932.
Apesar de os seus vinhos se confundirem com os de Jerez, as diferenças entre ambos são bastante claras: enquanto o de Jerez é um vinho de aroma a lembrar azeitona, por vezes salino e seco, o de Montilla-Moriles desenvolve outros aromas como tomilho, rosmaninho... No paladar são vinhos que recordam a avelã, enquanto os de Jerez tem um gosto mais amendoado, com os finos de Montilla a apresentarem mais corpo e mais oleosidade, menos secos, com uma baixa acidez e um final típico amargo e algo rústico.

Os vinhos da D.O. Montilla-Moriles enquadram actualmente desde os estilos mais tradicionais aos mais modernos (caso do exemplar aqui em prova), produzindo 3 tipos de vinho: jóvenes afrutados, crianza (procedentes de uma combinação de lotes): secos, semi secos e doces , generosos (através do sistema de solera): frescos secos, finos, amontillados (inventado aqui no Séc. XVIII), palo-cortado e olorosos amontillados.
A estes 3 tipos, juntam-se os Pedro Ximénez, e também o Brandy de Montilla.
Em baixo coloco um vídeo que de certa forma ajudará a compreender um pouco melhor esta D.O. e os seus vinhos, está em Espanhol.



Um factor a ter em conta, pela importância que tem na base de um vinho, é e sempre será, o solo onde as vinhas estão colocadas, neste caso são as famosas Albarizas, solos ricos em carbonato de cálcio, pobres em matéria orgânica natural, pouco férteis, composição mineralógica simples (calcário e sílica) e com alta capacidade de reter a humidade (30%).
Durante a vindima realizada em finais de Agosto (uma das primeiras em Espanha e provavelmente de toda a Europa, por questões de clima), os cachos são estendidos num tapete onde as uvas passificam por acção do sol, adquirindo uma tonalidade cinza-pardo. Uma vez prensadas, obtém-se gota a gota um mosto denso, a superar largamente 250 gramas de açúcar por litro. Ora se por cada 17 gr de açúcar do mosto se transformarem num grau de álcool, consequentemente a percentagem média de etanol no vinho resultante da fermentação seria de 14,7%. É neste ponto que entram em funcionamento as leveduras próprias desta região, e graças a uma alta capacidade de transformação, obtêm de um mosto com 250gr um vinho com mais de 15% álcool. Desta maneira, o vinho passa sem mais adições, directamente para estágio em barrica.

Já passaram quase 3 séculos, desde que o primeiro Alvear, Juan, originário do município navarro de Nájera, fosse morar para a cidade de Córdoba para desempenhar funções a nível de economia local. Mas seria o seu filho, Diego de Alvear y Escalera que em 1729 se muda para Montilla onde nasce a sua paixão pela vinha e pelo vinho, onde iria fundar a Bodega Alvear (a mais antiga da Andaluzia).
Diego iria buscar à Argentina o seu capataz de confiança de nome Carlos Billanueva, que marcava com as suas iniciais (C.B.) os melhores vinhos provenientes da serra. Foi desta forma que se foi criando o "estilo" Alvear, pleno de moderação e homogeneidade nos seus traços, todavia presentes no Fino C.B. a marca centenária e mais conhecida deste prestigiado produtor.

A originalidade dos Alvear Pedro Ximénez de añada/ano de colheita, que é o referido no rótulo, é que se elaboram exclusivamente a partir de uvas Pedro Ximénez de uma só colheita, com um estágio estático (sem direito a Solera ou Criadera), com ou sem madeira a depender do tipo de vinho em questão.
Alvear Pedro Ximénez de Añada 2004
Castas: Pedro Ximénez (100%) - Estágio: 6 meses em madeira - 17% Vol.

Tonalidade ouro velho com toques de âmbar, apresentando uma elevada viscosidade.

Nariz de aroma potente e conquistador, é difícil não se ficar entretido com o refinado bouquet que este vinho emana no copo. Num todo harmonioso apesar da qualidade e complexidade de aromas que despoleta, variando desde fruta em passa (ameixa, figo), mel, tâmara, rosmaninho, laranja amarga e marmelada.
Ganha com algum tempo de copo, e mesmo com a subida de temperatura, a panóplia de aromas vai rodopiando, sem que em algum momento mostre sinais de quebra ou cansaço.

Boca doce é bom é bom é, lá dizia o anúncio do pudim. É assim que se apresenta este vinho, com uma enorme untuosidade que parece que o melaço, perdão... o vinho, se cola às paredes da boca, tecto incluído. É denso e coeso, mas ao mesmo tempo mostra-se harmonioso e cativante. A fruta está presente em modo de passa de ameixa e figo, alguma tâmara, avelã, licor de laranja e uma acidez bem integrada em todo o conjunto que lhe dá aquela frescura que não é derivada das horas que passou no congelador, terminando num longo e persistente final.

É um vinho arrebatador na boca, de impacto elevado para quem não está minimamente à espera... e não são poucos aqueles a quem já tive oportunidade de dar a provar e que ficaram rendidos aos encantos deste Pedro Ximénez.
Deve ser consumido a uma temperatura de 6º - 8ºC. , e como uma vez me disse um amigo, até se pode deixar esquecido no congelador. Acompanha muito bem variadas sobremesas, frutos secos e queijo azul, sendo que por cima de gelado de baunilha fará a delícia de muitos. O preço é qualquer coisa de espantoso, visto que se pode comprar na casa dos 6-7€.
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